A coordenação do cuidado vem ganhando mais força, fé e foco do sistema de saúde suplementar brasileiro, nos últimos anos, para que verdadeiramente aconteça e não seja somente um clichê. Gestores de planos de saúde e especialistas no setor são unânimes ao reconhecer a necessidade e urgência de combater a fragmentação do atendimento e os consequentes desperdícios.
O consultor em saúde pública Eugênio Vilaça Mendes explica que o setor suplementar se originou no século passado, quando o atendimento era episódico, voltado a condições agudas, causadas principalmente por doenças infecciosas. Com o passar das décadas, mudou o perfil epidemiológico da população, prevalecendo hoje as condições crônicas, mas a cultura de livre escolha sobre como e quando usar o plano já estava estabelecida. A partir do acesso direto a especialistas e do hábito de procurar o serviço apenas quando algum problema de saúde ocorre, “a doença da descoordenação aparece com frequência”, constata Vilaça. Mas essa estrutura começa a mudar pelo aprendizado conjunto dos atores do mercado a respeito de como implantar a gestão integrada da saúde. “A vacina para o cuidado fragmentado chegou tarde, mas veio em várias mãos; juntos, com certeza conseguiremos reverter a lógica equivocada dos últimos anos”, diz Vanessa Moraes Assalim, diretora médica da Atenção Primária do Grupo NotreDame Intermédica (GNDI). Na Nossa Saúde, do Paraná, o tema acendeu 52.659 lâmpadas, entre verdes, amarelas, vermelhas e roxas, que são o total de beneficiários da operadora de acordo com a sua classificação de risco. Quando a empresa decidiu visitar cada prontuário, iniciando o trabalho que a reposicionaria como gestora de saúde integrada, descobriu nada menos que 43% de lâmpadas cinzas ou apagadas. Eram pessoas que não iam ao médico havia pelo menos um ano e sobre as quais pouco se sabia. “Nosso objetivo é o cuidado real das pessoas, saindo da sequência automática de agenda, especialista, guia de exame e retorno quando tem sintomas”, explica Dulcimar De Conto, CEO da Nossa Saúde. “Cuidado é a antecipação do problema; não perder a pessoa de vista; saber dela o tempo inteiro, monitorar”, ensina, desdobrando a analogia com as lâmpadas acesas. Na trajetória que teve início há 16 anos, com a definição do propósito de inspirar o amor pela vida, a implantação de microssistemas internos, a experimentação de modelos e a criação de núcleos de atenção integral, a cultura foi se transformando e os resultados já são claros.
Um exemplo é a medicina integrativa que, ao complementar a convencional com terapias e práticas que buscam o bem-estar e a ativação de recursos de autorregulação dos pacientes, diminuiu de 41% a 56% as idas ao pronto-atendimento causadas por sintomas de ansiedade. Sob a coordenação da médica Daniela Artico, o trabalho foi apresentado e premiado, em 2020, no III Simpósio Internacional de Medicina Integrativa e no II Simpósio de Oncologia Integrativa, organizado pelo Hospital Israelita Albert Einstein.